Havia uma lacuna em minha criatividade de escrever. Fato. Não tem Kelsen certo que diga o contrário. Como resolver uma lacuna? Vários modos. Escolhi a Analogia Legis. O post do nosso companheiro Rafa Pingumeida a respeito de sua possível e temporária baiandidade me suscitou uma indagação. O uso do gerúndio na Bahia. Parece non sense... Ainda bem que parece, porque é non sense mesmo.
Eu andei procurando no Google coisas a respeito para fundamentar meu argumento, mas não achei. Não sei se isso é bom ou ruim. Pode ser bom, porque eu fui o primeiro inútil a escrever sobre isso, e assim posso ficar famoso pelo resto da eternidade (talvez eu seja o primeiro a pensar tal barbárie, mas não tenho como provar). Também pode ser ruim, porque eu fico sem fontes formais para abalizar tal desenvolvimento ideológico.
Desde a época do vestibular eu venho desenvolvendo essa minha tese (pra vocês verem porque eu perdi uma vez). Sempre eu ouvia os professores falarem na sala: não usem o gerúndio... gerúndio é feio... gerúndio é aquilo... gerúndio é coisa de boboca... Meu filho você é burro? Mim não conjuga verbo! , Tire a patinha da cadeira! , Newton por metro quadrado é Pascoal... mitocôndria é verde...
Voltando ao baiandês, é impossível que alguém, residente na Bahia por ao menos 15 minutos, não perceba a quantidade de gerúndios dita por segundo por um baiando. (A f(x) dessa quantidade ainda não foi desenvolvida, por tratar-se de um número com mais decimais que Pi, diferentemente da função Aarística da quantidades de “É” ou Simonística, da quantidade de “Tipo”)
O gerúndio é tão dito na Bahia que tornou-se um amigo inseparável dos baiandos, e a sua evolução lingüística já é aparente. A evolução fenomenológica do gerúndio é feita de modo similar à do Vossa Mercê: pela supressão de letras. Vossa mercê, vosmecê, você, vc, cê, c... . Já o gerúndio não é uma frase, palavra ou expressão. Segundo o Dicionário Aurélio, o gerúndio é a “forma nominal do verbo, formada, em português, pelo sufixo -ndo. Ex.: comendo, falando.”, portanto, muito mais complexo que um Vocêzinho de merda. Mesmo assim, na Bahia, o gerúndio foi modificado. Se o Sr. Aurélio fosse baiando, a provável definição para gerúndio seria: “forma nominal do verbo, formada, em baiandês, pelo sufixo – no. Ex.: comeno, falano.”.
Os motivos que levaram a supressão da letra D podem ser diversos. Os sulistas dizem que foi por pura preguiça de falar. Os mais radicais, afirmam veementemente, que foi racismo, que a letra D vem do desconhecido deus grego Dafostótenes, que era negro, e por isso ela foi suprimida como forma de discriminação (o deus também é desconhecido por ser negro). Outros dizem que a letra D foi afastada pela numerologia, porque a soma do –NDO dava um número maléfico, azarento, como fez Xanddy, do Harmonia do Samba, quando mudou seu nome. Falando em artistas, Elba Ramalho disse que o D foi abduzido por alienígenas, e que mais tarde será devolvido com um chip ao centro, e assim, sua escrita ficará parecida com um 8. Existem também aqueles que acreditam que o – NO é mais sonoro que o – NDO, e a Bahia, como centro musical cosmopolita, desenvolveu essa forma verbal apenas pela sonoridade. Correndo por fora, aqueles que crêem na teoria da conspiração, que o – NO faz parte do projeto secreto de construção de uma identidade baianda para fins separatistas. Eu acredito que foi a junção desse bolo doido todo.
Eu como Mafra, gosto das coisas corretas, em prol dos homens de bem e da cultura altamente formal, Adâmica, por que não?
Logo, qual a denominação formal daqueles que nascem na Bahia? Baianos???? PÊÊÊMM, ERRADO. O correto é BAIANDO.
